MINHA HISTÓRIA FOTOGRÁFICA
Era junho de 2003, aeroporto de Guarulhos, free shop de ida:
- Amor, olha o que eu achei aqui: uma câmera digital - disse ela.
- É? Deixe-me ver - respondi meio preocupado, cheirando uma despesa iminente.
- Vamos comprar? É a nossa primeira viagem internacional e nem câmera a gente tem pra registrar o passeio. Olha só: tem três VÍRGULA DOIS, megapixels - apelou.
Seus argumentos, por si só, pareciam convincentes, mas lembrei-me ainda de minha irmã que, havia um ano, trouxera na bagagem da sua viagem de lua de mel uma Nikon Coolpix, de assombrosos dois megapixels. Resgatei em minha memória a imagem de meu cunhado exibindo, orgulhoso, as fotos da viagem na televisão, na qual a câmera se conectava diretamente.
Pensei comigo que, àquela altura, uma câmera digital já não era mais exatamente um item vanguardista. Ter uma máquina daquelas começava a ser condição para ser gente.
Respirei fundo, tomei coragem e disse, sem nem querer ouvir muito a minha própria voz:
- Tá legal. Vamos levar. Vendedor, embrulha essa daqui, por favor!
"Essa daqui" era uma pequena Olympus Camedia C-360, e a pessoa com quem eu dialogava era minha então namorada (que se casaria comigo menos de três anos mais tarde). Eu estava com 28, quase 29 anos de idade, e até aquele momento minha relação com a fotografia havia sido... bem, eu praticamente não havia tido nenhuma experiência com fotografia de que eu pudesse me orgulhar. Lembro-me de brincar, quando muito pequeno, seis ou sete anos de idade, com a câmera do meu pai. Era uma Pentax reflex, comprada na década de 60 ou 70. Nunca tinha filme nem nada, meu interesse era só mesmo bisbilhotar. Bem que meu pai tentou me dar algumas lições de fotografia - diafragma, obturador e tal - mas meu interesse hibernava.
Lembro-me também de uma situação, quando eu tinha uns 10 anos. Foi num almoço de casamento, uma festa de família. Eu peguei uma câmera que estava dando sopa em cima da mesa e comecei a mexer. Abri a tampa traseira...
- Meu Deus, vai queimar o filme! - disse alguém que correu pra arrancar a câmera da minha mão e fechar a tampa.
Nem sei quantas exposições estraguei. Só me lembro da bronca:
- O que é que tu tinhas que mexer na máquina, guri? - disse meu pai.
- Mas... eu não sabia que abrir a tampa queimava o filme - tentei me defender.
- Não sabia? Por isso mesmo! Quando a gente não sabe, não mexe!
Em outra ocasião, quando eu tinha 13 anos, fizemos nossa primeira viagem à Europa. Minha irmã e eu numa excursão com mais nove amigos pré adolescentes. Viajamos 40 dias e sequer levamos uma câmera. Recordações? Emprestamos os negativos dos amigos.
E então, com quase 30 anos de idade, naquela noite no free shop, comprei minha primeira câmera fotográfica. Poderia ter sido apenas mais uma compra, poderia ter sido apenas um brinquedinho útil, que diverte no começo e depois fica esquecido no fundo do baú, para ser usado muito de vez em quando. Poderia ter sido, mas não foi. A verdade é que o meu interesse pelo tema foi, a partir daquele momento, definitivamente despertado.
Eu nunca na minha vida havia me interessado em praticar seriamente qualquer tipo de arte. Nunca tive nenhuma habilidade manual com nada, mas isso não me incomodava nem um pouco. Os 10 anos de aulas de piano me serviram muito bem não só para desenvolver meu gosto por música e por arte em geral, mas também para confirmar que eu não tinha nenhum talento para praticar aquilo. E sempre me achei completamente resolvido com isto.
Contudo, não menos de repente do que da noite para o dia, eu me vi mergulhado em livros, revistas, coleções e artigos da web buscando entender alguma coisa de fotografia. Um mundo completamente novo descortinava-se para mim e eu queria conhecê-lo detalhadamente.
Não demorou muito e, antes mesmo de 2004 chegar, minha câmera compacta tornou-se pouco para que eu começasse a praticar de verdade aquilo que eu via nos livros. Então, comprei minha primeira reflex, uma Nikon N75. A viagem estava só começando...
Dezembro de 2011.